Quem inventou o Natal?

Haue, gēns brasīliāna!

Após dois anos de pandemia, para muitas famílias a Véspera de Natal e o Dia de Natal deste Dezembro de 2021 foram as primeiras oportunidades de reunir todo mundo para a ceia e celebrar a vida [a Ciência, o SUS e —se as divindades forem benfazejas, a mídia se pronunciar de maneira imparcial e nenhum justiceiro com disfonia interferir na disputa— o fim do antigoverno corrupto, genocida, incompetente e negacionista que assola o Brasil]!

A maioria das pessoas acredita sem questionamentos que a tradição natalina é invenção exclusivamente cristã, sem atentar-se para o sincretismo facilmente identificável nos diversos elementos que compõem as festividades de fim de ano e, mais especificamente, o Natal.

Uma explicação sobre tais elementos deverá, obrigatoriamente, iniciar-se pela menção dos elementos pré-cristãos presentes no Natal. Começando pela data, o dia 25 de Dezembro, dia que ressona um importante festival de tradição politeísta atestado no Império Romano: o Dies Natalis Solis Inuicti. O Imperador Lucius Domitius Aurelianus (Imperador Aureliano) foi o responsável pela instituição do culto solar a partir de 25 de Dezembro de 274 ᴇᴄ, honrando o deus Sol Inuictus (Sol Invicto), divindade popular entre as hordas militares que possivelmente sincretizava quatro deuses: os latinos Sol Indiges e Sol Inuictus e os siríacos Elagabal de Émesa e Malakbel de Palmira.

Sol Invictus. Imagem sem créditos.

A escolha de 25 de Dezembro como o Dia de Nascimento do Sol Invicto não foi ocasional. Provavelmente a data foi calculada para coincidir com o Solstício de Inverno, dia em que o Sol está mais afastado da Terra e, portanto, ocasião anual em que o dia tem menor duração. Após o Equinócio de Outono os dias diminuem e as noites se alongam, sendo a noite do Solstício de Inverno a noite mais longa do ano. Após o Solstício há maior incidência de luz e os dias progressivamente passam a durar mais do que as noites. O Solstício, portanto, é o «Dia Natal» do Sol, que encontra o seu apogeu no Solstício de Verão, a partir do qual a duração dos dias novamente declina…

Além da correspondência com o Solstício, o Diēs Nātālis Sōlis Inuictī ocorria após o festival das Sāturnālia, festa tradicional que a população romana dedicava ao deus Sāturnus, inicialmente uma celebração de três dias iniciada em 17 de Dezembro, mas que evoluiu para uma festividade de sete dias, compreendendo os dias entre 17 e 23 de Dezembro. Durante este período, suspendiam-se as diferenças sociais e os escravizados eram livres e seus senhores serviam banquetes nos quais todos participavam conforme a sua vontade. Costumavam-se trocar presentes nos últimas dias das Saturnálias, em especial estatuetas denominadas sigilla, uma tradição que provavelmente precedeu a troca de presentes ou a visita do Papai Noel.

As Saturnálias eram uma festividade que suspendia a ordem social e as suas hierarquias, assemelhando-se à proposta de liberalidade hoje mais associada ao Carnaval. Lembrando a Idade de Ouro, período de igualdade, prosperidade e abundância sob o governo de Saturno, as Sāturnālia eram festivais importantes: ao subverter temporariamente a ordem social sob a supervisão do governo, assegurava-se a sua manutenção durante os outros dias do ano. Por sua liberalidade, as Saturnálias tornaram-se festas bastantes populares e por todo lado ouvia-se a sua saudação característica: iō Sāturnālia!

A proposição da celebração do Diēs Nātālis de Jesus Cristo no dia 25 de Dezembro ocorreu durante o governo do Imperador Flauius Valerius Constantinus (Constantino, o Grande). Esperava-se proporcionar mais popularidade ao Natal, contrastando-o com as festas pagãs. Contudo, a data concorreu com a tradição oriental do nascimento de Jesus em 6 de Janeiro (Epipháneia ou Epifania, mais conhecida no contexto brasileiro como Dia de Reis) e o Natal só se tornou popular na tradição cristã por volta do século IX ᴇᴄ.

Imagem sem créditos.

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